A tritã deixava suas dúvidas para com aquele sujeito que estava completamente preso, este que continuava de cabeça erguida olhando a criatura e quando estava prestes a falar algo um terceira voz surgia.

- Ei! Não fale com o prisioneiro! - Vindo do corredor onde Hoshioka estava anteriormente, um sujeito de cabelos escuros e pele morena, provavelmente por volta dos trinta anos, falava para Hoshioka alarmando-a e impedindo que o homem preso continuasse a falar algo.

- Venha comigo. Ramón passou uma missão importante para você. - O nome era familiar, facilmente lembrado como aquele senhor baixinho que havia lhe ajudado e dado um beijo em sua mão. Claramente o líder de todos ali.

O homem aguardou até que a tritã se aproximasse dele, mesmo desconfortável, evitou de tomar muita distância, mesmo que mantivesse ao menos um metro por segurança, adentrava um pouco mais para dentro do quartel general, era um lugar grande, onde Hoshioka poderia até mesmo se perder caso resolvesse se aventurar sozinha sem o costume de conhecer o quartel. Finalmente ambos chegavam até um pier, local onde alguns barcos da marinha estavam estacionados, uma pequena mecânica ao lado onde dois sujeitos martelavam algumas peças.

- Há anos atrás uma embarcação importante naufragou próxima daqui, há certa de dois kilometros da costa. Precisamos que você mergulhe e a encontre. Em algum lugar do navio vai encontrar uma pequena caixa, agora já deve estar coberta por musgo ou seja lá o que mais tem no fundo desse mar. Se encontrar mais de uma traga todas elas. Bem-vinda a revolução. - O sujeito esticava seu braço entregando uma especie de mochila e por fim batia continência ao ser de espécie humanoide sua frente.

O sujeito que passava as informações da missão olhava incredulo para a tritã a sua frente. Ela estava mesmo sugerindo que ele fosse junto? O rapaz se botou em grande dúvida,  preferiu aceitar que fosse algum tipo de piada, ela não parecia mesmo alguém que pudesse ser levada a serio, as informações sobre uma raça completamente diferente entrando no QG corria rápido entre os revolucionários e o detalhe sobre as paqueras que fazia também eram espalhados, e que para os rapaz agora se comprovavam não ser apenas fofoca, quando Hoshioka insinuava sobre romantismo e sensualidade.

Suas respostas eram para todas as dúvidas um silêncio, o que poderia dizer afinal? Sequer apresso por aquela criatura o sujeito tinha, quem dirá dar corda para as investidas insensatas. O sujeito dava um sorrisinho singelo, sem graça, sem jeito diante daquela situação toda. Talvez a tritã não compreendesse que eram raças diferentes, e que para a maior parte dos humanos ela era uma criatura verdadeiramente repugnavel, enquanto que para os seus iguais certamente poderia ser declarada como a rainha da beleza, infelizmente não estava em Conomi onde os homens peixe dominava, estava em Baterilla, um lugar simples que apenas um ou dois houvessem visto uma criatura diferente dos humanos.

Não tendo outra alternativa, negar o pedido para que buscasse as caixas parecia um tanto quanto problemático, visto estar cercada de pessoas que desconhecia e que possuíam uma opinião social diferente da sua, ela desejava navegar o mar com um chapéu da marinha, enquanto aqueles que haviam tomado posse do quartel general, certamente demonizavam essa atitude.

Hoshioka se lançou ao mar, saltava exibindo suas curvas à quem estivesse disposto a olhar e mergulhou com a excelência de um tritão. Uma sereia, uma verdadeira criatura do mar, ela não podia negar que se sentia muito confortável estando ali. Nadou centenas de metros enquanto sua barriga roncava, estava com fome faziam horas e até então não havia se saciado, mas agora poucas opções tinha além de quem sabe caçar alguns peixes para se alimentar.

Nadando pelo fundo do mar finalmente conseguia ver à algumas dezenas de metros uma embarcação naufragada, a madeira já estava desgastada pelos anos que estava a mercê da força do mar, à centenas de metros da superfícies. Era uma navio grandioso, não parecia ser de marinheiros, mesmo que tivesse submersa à longos anos era facilmente identificável como uma embarcação pirata, mesmo que a jolly roger já estivesse quase completamente rasgada e sem vida, assim como todo o resto.

A vida marinha era certamente maravilhosa e encontrava uma forma de se viver, mesmo de longe, Hoshioka podia ver que algumas criaturas habitavam a embarcação, pequeno corais se formavam, um polvo de pouco mais de trinta centimetros estava agarrado logo ao lado de um buraco grandioso na traseira da embarcação, possívelmente a razão para que tivesse afundado no mar. Da mesma forma que a vida marinha podia ser bela, também podia ser aterrorizante e a tritã sentia sua espinha congelar ao ver à sua direita passear um rei do mar. que era facilmente duas vezes maior que a embarcação naufragada.

Com o peixe pescado preso entre seus dentes, Hoshioka observava o grande ser marinho que passeava pela região, uma verdadeira raridade ver uma criatura tão grandiosa como aquela, e a tritã havia presenciado duas vezes e em ambas saído com vida. O gigantesco predador continuava seu caminho ignorando a presença daquela jovem que certamente lhe seria uma verdadeira iguaria caso fosse caçada. Hoshioka por outro lado que adentrava pelo buraco próximo onde o polvo estava observava o rei do mar, acompanhou com os olhos por tempo suficiente para perceber que ele estava rodeando o lugar, mesmo que estivesse numa boa distância, seus movimentos eram circulares, onde o centro parecia ser aquela embarcação cujo a tritã entrava.

O mar e o tempo agindo em conjunto eram capazes de engolir a vida humana que existia ali, em algum dia essa embarcação tinha sido populosa e cheia de vida, com pessoas cantarolando canções e preparando refeições, mas agora apenas musgo estava espalhado por todo lugar, e claro, alguns ossos, daqueles pobres que ficavam preso naquele porão onde Hoshioka estava, era difícil dizer quantos eram os humanos mortos naquele local, mas inspecionar os corpos não era seu trabalho, uma caixa pequena ornamentada sim, algo que pudesse chamar sua atenção apenas por olhar, restando que a tritã buscasse tal objeto pela embarcação.

Hoshioka nadou e começou a vasculhar pelos cantos, nadando pelos corredores da embarcação afundada, de certo modo chegava a ser uma aparência até bonita, onde em meio à morte, a natureza havia criado uma forma de prevalecer e não era essa exatamente a maior beleza da vida? Finalmente a tritã saiu dos corredores e colocou sua cabeça para observar a proa da embarcação, restavam poucos lugares para procurar, seus olhos viam a cabine do capitão e o pressentimento de que se algum item valoroso estivesse a bordo, teriam muitas chances de estar ali, por outro lado também conseguiu sentir quando uma corrente de água balançou seus cabelos. O rei do mar estava mais perto.

A tritã questionava a real razão para a embarcação estar no fundo do mar, pelo estado do navio e a natureza ao seu redor, ela podia dizer, não com exatidão que pelo menos quinze anos deviam ter se passado, o que tornava difícil ser aquele rei dos mares o motivo pela naufrágio, mas não impossível. Continuou a observar os movimentos da gigantesca criatura até que pudesse encontrar uma brecha para agir, e quando esse momento surgiu, bateu seus braços na água em um nado rápido para chegar até a cabine.

Conseguia sem dificuldades adentrar pela janela da cabine, cujo se mostrava um lugar mais fácil, visto as maçanetas enferrujadas que dificilmente se abririam com facilidade. Uma vez no local, pôde perceber a ausência de ossos, o lugar assim como todo o restante estava dominado por musgos verdes e pequenos peixes que saíam agilmente com a chegada da tritã. Não precisou de muito tempo para que pudesse encontrar o que viera buscar, a pequena caixa, ausente de cores vivas, estava disposta no canto direito, no chão. Hoshioka a pegava e notava estar fechada, tracada e não era tão pesada, seja o que fosse que estivesse guardado ali deveria ser valioso para que fosse pedido à ela que buscasse de forma tão imediata como havia sido.

A caixa tinha cerca de trinta centímetros de altura e largura, sendo quadrangular em sua base e continha alguns ornamentos do que parecia ser simplesmente ouro. Bem ao centro a abertura da fechadura, a chave deveria ser grande, e provavelmente estava em algum lugar daquela embarcação, não a via na cabine do capitão. Olhando pela janela, Hoshioka constatava a aproximação do rei dos mares, grandioso, imponente e de aparência traiçoeira. Se demorasse muito mais era provável que a criatura acabasse por destruir toda a embarcação.