Estava lançado ao mar, sozinho seguindo o caminho das estrelas rumo à Grand Line, eu não conhecia aquelas águas mas sabia me guiar geograficamente, tinha pedido para que Ramon me informasse para qual direção eu deveria ir e era assim que eu seguia para conseguir chegar ao meu objetivo.

Sair de Baterilla tinha sido um processo fácil com a ajuda dos revolucionários, e agora com o mar aberto deixava apenas as ondas me guiarem. Parava na proa daquele barco da Marinha e observava a vastidão azul, era realmente uma coisa muito bela e que parecia mesmo com o deserto como eu imaginava, era a primeira vez que eu estava naquela posição, apenas um ponto mínusculo em meio ao oceano.

- É uma pena você não estar aqui para ver isso... - Falava com um olhar frio em direção à água, minhas palavras lançadas ao ar eram incapazes de alcançar aquele a quem um dia eu havia entregue meu coração, um romance adolescente, que agora já não significava muitas coisas para mim, mas me lembrava de termos combinado velejar juntos e promessas sempre me valiam muito.

Passava pela minha cabeça também a situação de Zahra, será que tinha tomado a decisão certa e deixá-la sob supervisão de Mérit? Bem... No confronto ao Quartel General, a guerreira tinha se mostrado muito superior a mim em combate, mas eu era sangue do sangue da princesa, talvez coubesse a mim leva-la até Kayro..

Não, eu devia mesmo partir em frente, enfrentar Amon e deixar nosso reino livre de sua tirania, para que Zahra não precisasse assistir esse confronto. Sim, eu estava tomando a decisão correta em seguir adiante, ela estava segura com Mérit, Ramon e Chico, além de Margareth e Dolve.

Dei as costas para a vastidão azul e adentrei na embarcação, quem sabe pudesse achar alguma coisa de útil lá dentro.  

Caminhava por entre os corredores daquela Fragata, o que poderia encontrar de útil alí? Algum armamento talvez,? Achava dificil que pudesse ter um quarto repleto de tesouros ou algum item realmente valioso, por mais que Baterilla fosse uma ilha interessante ela não parecia ter a Marinha mais exuberante do mundo. Abri porta por porta em busca de algo, me aventurando na procura de algo que sequer eu sabia o que era, mas nada me era útil, quartos vazios e alguns trapos.

Por ali nada me agradava muito, a cozinha também estava vazia e logo eu sentiria fome, devia ter me preparado melhor para essa aventura, pensei ao ouvir o roncar de meu estômago. Saí daqueles corredores e voltei para a proa da embarcação, com interesse em abrir a escotilha que ali havia.

Não encontrava ouro, mas achava algo deveras interessante, um compartimento com algumas celas que me poderiam ser úteis no futuro, também parecia o lugar mais quente da embarcação, resolvi por deitar num monte de feno e descansar um pouco enquanto o mar me levava.

Dezenas de minutos, ou algumas boas horas, o céu deixava a noite chegar e escurecer todo o ambiente, saí de onde estava e subi novamente as escadas, precisava procurar por alguma forma de criar fogo e conseguir enxergar melhor. Porém, quando pisava novamente no convés... Via algo que me aterrorizava.

Aquilo era uma onda gigante cercada por duas rochas? .... Meus olhos demoraram um pouco para se acostumar com a escuridão, mas finalmente percebi... O mar estava subindo. Já tinha escutado histórias sobre esse lugar.. Reverse Mountain, a entrada para a Grand Line e também o cemitério de diversos aventureiros despreparados. A questão era... O quão despreparado eu estava para enfrentar aquela monstruosidade?

Respirei fundo sabendo que teria um desafio árduo a minha frente. Era o meu primeiro grande passo sozinho.  

Me posicionava e segurava no leme, a fragata lentamente começava a ganhar velocidade e o leme se tornava mais duro, como se o navio não quisesse aceitar meus comandos, me aproximava das rochas cada vez mais e já conseguia imaginar que a embarcação explodiria naquela costa, se continuasse assim não saíria vivo.

Tinha que pensar, raciocinar rápido qual decisão deveria tomar, estava sozinho ali, me virei de costas para aquela monstruosidade e analisei tudo que poderia olhar na fragata, o que eu devia fazer? O que? ... Meu conhecimento me dava diversas opções para realizar, mas nenhuma delas me parecia a melhor ideia, todo conhecimento adquirido com estudos não eram iguais a aquele momento.

- Isso! - Soltei o leme deixando de fazer força, precisaria agir rápido para recuperar o controle, sentia que meu maior problema eram as velas, a subida gerava uma corrente de ar que soprava com força para a montanha, e as velas puxadas como estavam apenas faziam o barco ganhar cada vez mais velocidade.

Acelerei em toda a minha agilidade para alcançar a corda das velas, enquanto a embarcação sacudia, o desespero só não me consumia por conseguir ter um auto-controle bom em situações como essa, precisava manter minha cabeça tranquila e ser focado.

Era dificil me movimentar e por pouco chegava a quase ser lançado ao ar, mas conseguia me segurar na mureta lateral da embarcação, até finalmente alcançar as velas e agora precisava amarrá-las, lutando com toda a minha força para conseguir realizar esse feito, que no mínimo precisaria de duas pessoas para conseguir.

- AAaaarrhhh!!! - Gritava para os marés enquanto meus músculos ardiam. Um-Dois-Três! Pensava freneticamente enquanto me esforçava para conseguir abaixar as velas e diminuir a velocidade da embarcação. Era uma verdadeira batalha que estava apenas começando. Precisava dar mais do que o meu limite para sair daquela situação.

Finalmente conseguia abaixar a vela da embarcação, mas estava proximo demais das rochas e sabia que acertá-las seria algo dificil de evitar, mas correia em direção ao leme com toda a minha velocidade, e ao chegar apenas o girava com força e fúria para tentar manobrar aquela embarcação da forma mais rápida possível. Em questão de segundos a direção estava travada, havia virado o máximo possível para a direita e era só questão de aguardar... Segundos que eram infinitos.

Continuei de olhos abertos observando a aproximação das rochas até finalmente a embarcação atingir com sua lateral e toda a força. Segurei no leme o máximo que pude, abraçando aquele objeto para que eu não fosse arremessado para longe com o impacto.

Uma parte da frente do barco estava destruída, assim como certamente um rasgo na lateral, eu não tinha tempo para examinar o estado total da fragata agora. Ao menos havia conseguido fazê-la começar a subir a reverse mountain, mesmo que desgovernada. Tudo que me restava era continuar guiando aquele barco afim de tentar de alguma forma sobreviver.

- Vamos lá! Aguente só mais um pouco, garoto! - Conversava com a embarcação que era minha única companheira naquela empreitada louca, mesmo que tivesse ligação alguma com aquele barco de bandeira marinheira que eu havia pego de Baterilla.

Conseguia ver do leme a parte que havia sido perdida na frente da embarcação, como se uma grande bala de canhão tivesse atingido o local. Tinha certeza que uma grande quantia de água estava entrando, mas não tinha como eu pensar em quantos minutos teria antes dele finalmente afundar.

Tinha que continua tentando guiar o barco que estava sendo praticamente arrastado pela correnteza e que continuava a bater na lateral da montanha. Usava de toda a minha maestria pra tentar usar a própria correnteza ao meu favor. 

Sentia meu corpo dolorido, cada porrada que a embarcação dava na montanha eu conseguia sentir estremecer meus ossos, tinha que me segurar firme enquanto tentava manobrar aquele barco desgovernado, mas estava subindo, com muito sacrificio do pobre barco, mas subia.

Quando chegava próximo ao topo o mar parecia se acalmar um pouco mais, percebia que aos poucos eu conseguia lidar melhor com o leme, o que me era uma coisa muito boa, apesar de ainda ter o problema da agua estar entrando por todos os lados, aquela carcaça não duraria muito mais tempo.

- Olha... Eu já vi muita gente maluca nesse mundo, mas é a primeira vez que vejo um louco o suficiente para subir a reverse sozinho. Kirikirikiri! - A voz surgia atrás de mim, o que me fazia virar imediatamente, esquecendo-me do leme por um segundo, um velho estava bem ali, parado com um sorriso no rosto e um pequeno macaco em seu ombro. Apontou o bastão para mim e comentou calmamente. - Se eu fosse você olhava pra frente. - Voltei minha visão imediatamente para o leme e por pouco desviava de um rochedo que bem.. Seria só mais um grande dano naquele pobre barco, mas ainda sim era melhor desviar.

- Quem é você? - Perguntei curioso tentando olhar novamente aquela figura, queria ter certeza de que eu não havia enlouquecido, afinal, do nada surgir um velhote com um macaco naquele barco que eu tinha verificado ter apenas eu me parecia um tanto quanto improvável.

- Eu sou Arlind e esse é Mini. Vendo suas roupas, eu duvido muito que seja um marinheiro, diga, roubou este barco e fugiu para cá? Perguntava o senhor tentando puxar uma conversa enquanto eu só tentava sobreviver.

- Não estou fugindo. - Respondi ainda focando meus olhos a frente.

O pesadelo chegava ao fim quando a embarcação teriminava de subir a montanha e eu podia ver uma pequena ilha com um farol chamativo. Expirei todo o ar que estava segurando desde que começava a subir, ao menor eu podia ver terra firma, mesmo que não fosse o melhor dos nadadores.

Me lembrava então do senhor e voltava para vê-lo, percebendo que já não havia mais o velho ali, o que poderia me atestar a loucura que acreditava, algum sindrome de desespero? Existia isso? Apesar de estar calmo agora, ainda não estava vivo e a embarcação tinha grande parte de sua base afundada, era possível que logo acabasse por partir ao meio, ou quem sabe só terminar de afundar.

- Eeei rapaz, amarre essa corda no barco!! - Uma voz familiar gritava ao longe, olhei ao redor procurando e lá estava ele, o mesmo velhote, agora já na ilha, demorei um segundo me questionando como ele tinha parado ali, mas logo vi a corda voando em minha direção. A segurei e amarrei no leme mesmo, ainda sem saber quais eram os planos do velho, uma dúvida sanada quando ele começava a puxar o barco sozinho. Era uma força descomunal.

Me senti aliviado, ainda estava tenso, mas aliviado. Me deitei na proa da embarcação e fiquei ali enquanto o velhote me puxava, consegui perceber quando deixei o mar e adentrei em terra firme, o que me deixava ainda mais aliviado, mas agora, precisava ficar mais um tempinho deitado, todo meu corpo estava dolorido, meus braços jogados por cima de meu rosto e a respiração ofegante, era assim que o velho me via quando subia no barco.

- Qual o seu nome rapaz? -

- Khaleed Haks.. - Encontrei em minha respiração uma brecha para responder aquele senhor que me ajudara.

- Me diga Khaleed Haks, se não está fugindo, como conseguiu este barco? Não pode ter roubado, estou intrigado. - Por uma brecha em meus olhos consegui ver a silhueta sentado próximo de mim.

Aos poucos recuperava meu fôlego e conseguia finalmente conversar com o velho.

- É uma longa história, mas resumindo, a marinha de Baterilla não existe mais, então eu peguei esse barco emprestado... Mas acho que subestimei esses mares daqui.

Falava calmamente para o Senhor Arlind, enquanto assistia o macaquinho me rodear. Eu não sabia como faria para sair dali, se aquele barco aguentaria mais uma viagem, mas poderia apostar que não. - Como assim a marinha de Baterilla não existe? -

Sabia que não era a melhor coisa ficar expondo essas coisas a qualquer um, mas convenhamos, era um senhor muito forte, era evidente que ele tinha uma força física superior a minha, ou alguma magia como a de Ramon, ele me via navegar em um barco da marinha e não tentou me atacar, se fosse um marinheiro agiria de forma mais hostil. Então... Quem era esse velho? Um inimigo certamente não.

- A revolução tomou posso do quartel da marinha, eu estava junto deles, mas devo admitir que não fiz muita coisa. Precisava continuar meu caminho, tenho assuntos a resolver no novo mundo.

- Kyakyakya você é engraçado garoto! Está bem longe do Novo Mundo, sabe disso, né? E certamente é maluco, essa é a única razão pela qual subiria a reverse sozinho.

- E o senhor, o que faz aqui sozinho? - Sentia o macaquinho beliscar o meu braço após o fim de minha frase, como se ele compreendesse minha fala.

- Não estou sozinho, não está vendo o Mini? Mas... Eu sou apenas um velhote, que gosta de ver os jovens vigorosos indo atrás de seus sonhos. Se você foi louco o suficiente para fazer o que fez, deve ter uma grande determinação! Mal posso esperar para ouvir falar mais de você Khaleed Haks! -

- Eu só não sei como vou sair daqui agora, esse barco não vai conseguir navegar nesse estado. -

- Bom, primeiro você vai precisar disso aqui! - Estendia sua mão com um objeto que eu só havia visto em livros, mas logo compreendi o que era, uma bússola para me guiar na grand line.

Passava os próximos dias junto de Arlind tentando consertar aquela embarcação, o senhor se mostrava bem solicito e até empolgado fazendo algumas perguntas sobre minha terra natal e contando que já esteve por lá quando era jovem, também me ensinava uma coisa ou outra sobre combate, me treinando eu podia jurar que ele parecia analisar se eu tinha algum potencial ou não, mas realmente ele havia gostado de mim. Devia ser algum tipo de apreciador de loucos, ou algo do tipo, já que repetia isso constantemente.

No Farol não existiam árvores e a madeira que usávamos era de embarcações que haviam sido destruídas, tentando subir ali, realmente deveria ser obra de algum deus ou minha determinação que me faziam conseguir continuar vivo, diante de tudo que eu tinha visto e vivido nos ultimos dias, trabalhar desmontando peças de barcos mortos para "costurar" aquela embarcação roubada era exaustivo, mas ao menos conseguia preencher minha cabeça por bastante tempo.

A ajuda de Arlind, claro, não era gratuita, pedia como pagamento toda comida que pudesse encontrar naquela embarcação de marinheiro, provavelmente era essa sua forma de ter o que comer ali, já que eu não havia plantações. Eu não tinha escolha a não ser aceitar, além de que, ele também tinha me dado aquele LogPose que se calibrava dia após dia para a minha próxima jornada.

Ao fim de três para quatro dias finalmente eu estava pronto para sair ao mar, o barco estava todo remendado e eu nem tinha certeza se conseguiria levá-lo até a próxima ilha, mesmo que Arlind me confirmasse que ele aguentaria chegar até lá, sua experiência falava alto eu não tinha razões para desconfiar e muito menos escolha.

Empurrei o barco para o mar junto do velhote e me despedi daquele estranho que havia me salvo. Tinha que me preparar para o que estaria por vir nessa nova localização e botar em prática os planos que passavam na minha mente.