Conforme eu já esperava o prédio do Governo era repleto de luxo desmedido. Mesmo que Batoshi não aparentasse ser tão desigual quanto Flevance tinha plena certeza de que a cidade escondia pobreza e revolta, afinal como poderiam os moradores de qualquer ilha se rebaixarem a um Governo opressor sem demonstrar resistência?

Ao menos os agentes daquele lugar eram muito mais organizados do que os de Flevance, assim como sabiam exatamente o porque de eu estar ali. Era guiado para a presença do suposto diretor da cede antes que me apresentava. Um homem estranho de olhos leitosos, que parecia ser um exímio admirador de arte, mesmo que parecesse incapaz de aprecia-la. Talvez um hobby herdado de tempos em que ainda podia enxergar com clareza. De toda forma, aquele homem parecia ao menos saber bem a posição das cadeiras na sala, quem sabe soubesse ainda mais do que isso.

Sentava-me a sua frente como era pedido, mas recebia com estranheza a pergunta de Juushirou sobre o porque eu deveria estar ali. Era claro para mim que Kizar desejava me punir pelo ocorrido em Flevance, mas com toda certeza se ele quisesse fazê-lo teriam lugares piores que Batoshi.

- Acredito que existe uma missão para eu cumprir em Bathosi, senhor Juushirou. – Respondia também de forma direta, assim como era a pergunta. Não gostava de jogos como aquele que o homem parecia prestes a fazer, mas por hora, apenas poderia aguardar para saber mais o que ele planejava.

Controle:

O agente Juushirou era diferente do que eu esperava. Com toda certeza, era completamente diferente do agente sênior que comandava Flevance, mas não parecia ser para pior. Sua aura emanava certa dignidade e respeito, o tipo de sentimento que se têm quando se fala com uma pessoa importante e ponderada. Se Batoshi era minha punição pela revolta no Norte, ainda não saberia dizer o porquê.

- Senhor, não senhor. – Respondia com firmeza férrea enquanto queimava os rostos dos dois agentes em minha mente. Uma missão importante que envolvia ao menos um traidor daquela célula do Governo Mundial. Ainda que sútil o agente sênior Juushirou era claro em seu tom ameaçador sobre as consequências de falhar em uma missão como aquela e dos detalhes que deveria me atentar. Por sorte, não seria o sorriso de uma agente em treinamento que faria com que abaixasse a guarda e fosse pego desprevenido. Sendo ela a traidora ou o agente Petronius, um dos dois deveria cair ao término desta missão.

- Senhor, existe alguma missão que possa utilizar como cobertura para essa investigação? - Questionava o superior. Uma cobertura ao menos me daria liberdade o bastante para poder andar e inquerir a jovem agente sem que parecesse um inquisidor, era melhor do que nada. Com minhas repostas batia continência para o homem a minha frente e deixava sua sala, agora deveria buscar meu esquadrão

Controle:

Juushirou era uma incógnita. Sentia um desconforto constante no peito enquanto reparava em cada respiração lenta e contida, cada gesto suave e palavras amenas. Não era o que se esperava de uma pessoa em uma posição tão alta como aquela, ainda mais se considerasse a pressão que recebia por gerenciar uma ilha e prováveis traidores. Não saberia dizer o que esperar daquele homem, apenas que aquela fachada de um superior calmo e ponderado parecia fachada.

Com minha missão em ordem me aprontava para sair da sala, até que era interrompido pela chegada de outro agente. Dessa vez era a agente Thora. Talvez secretária do superior ou outra agente em treinamento pelo modo que se mostrava abalada com falar com o homem mais velho. Com a instrução de me guiar para onde deveriam ser os arquivos, Thora não demorava para desabar em comentários sobre Juushirou, esclarecendo um pouco a razão pela qual eu desgostava daquele homem.

- Pelo contrário agente Thora. É muito mais fácil passar tempo na presença de uma pessoa que você sabe o que pode fazer, do que de uma desconhecida. –  A respondia de forma desinteressada. Thora parecia ser o tipo de pessoa da qual você pode coletar informações se necessário, mas também o tipo de pessoa que você nunca deve compartilhar um segredo. – Mas me diga, como o agente Juushirou ganhou um apelido como esses? –  Continuava a caminhar em direção aos arquivos, afinal agora eu tinha de completar uma missão que um carniceiro havia me passado.

Controle:

Não deixava de achar engraçado como alguém tão plácido e que jamais sujava suas mãos de sangue tinha ganhado o apelido de Carniceiro de Batoshi. Sabia pouco sobre tortura, mas o pouco que sabia me dizia que era muito pior torturar a mente de um preso do que seu corpo, afinal feridas no corpo podem ser tratadas e curadas, depois de alguns anos tudo que vai restar são algumas cicatrizes, mas as feridas na mente, essas sim são diferentes. Muitas não se curam e continuam abertas por anos.

Enquanto isso Thora parecia ainda pior do que pensava em uma primeira imagem. Tinha o brilho nos olhos ao pensar trabalhar oficialmente pelo Governo, provavelmente esperando missões de resgate de celebridades ou qualquer outro tipo de fantasia que passasse em sua cabeça. Ao menos, pelo que parecia, Thora não era um problema. Não um problema que fosse meu.

Deixa que a garota me conduzisse pelo quartel até encontrarmos o que deveria ser a sala onde retiraria as missões do grupo de agentes. Um amontoado de papeis com nenhuma ordem aparente e repletos do que me parecia pó e desinteresse dos agentes. Afirmava com um aceno a Thora e me punha a mexer naqueles papeis. Tinha uma ideia específica de missão em mente. Algo que pudesse ser resolvido relativamente fácil, mas que exigisse um tempo relativamente longo. De preferência que permitisse que eu e os recrutas passássemos a noite fora do quartel, talvez acampados ou apaisana. Se fosse algo que remetesse a um grupo revolucionário, ou talvez a uma brecha do governo, seria melhor ainda.

Com os papeis em mãos voltaria para Thora.

- Será essa a missão que vamos dar continuidade. – Mostrava-lhe o papel para que levasse a Juushirou. – Pode me dizer onde estão os agentes em treinamento no momento? Quero vê-los antes de partirmos para missão. – Falava com a garota, esperando uma resposta antes de me despedir com um gesto com a cabeça. – Só mais uma coisa, “agente” Thora. Às vezes, para decidir fazer algo que você nunca se achou capaz, você só precisa de algo que te motive o bastante. – Dizia as palavras enquanto a deixava e procurava meu rumo, talvez a garota fosse os olhos de Juushirou, talvez fosse apenas ingênua, de toda forma, me perguntava qual seria a reação de Juushirou caso ela decidisse ir a campo em uma missão de verdade. Meu objetivo agora seria ao menos procurar pelos meus recrutas, vê-los como agiam em seu dia-a-dia para saber o que me aguardava.

Controle:

Assoprava a poeira de um daqueles documentos e o entregava para Thora. Por hora, era tudo que precisava fazer, mas ainda tinha tempo de sobra. Supervisionaria três jovens agentes, uma delas suspeita de traição, então pensava em ao menos ver do que eram capazes antes de me colocar a frente daquela missão. Provavelmente passaríamos algum tempo buscando aqueles dois refugiados, mas quem sabe não seria possível esbarrar em algum esquema que os ocultasse. Tudo parecia possível naquele arquipélago.

Antes de retornar a Juushirou, decidia encontrar os recrutas no pátio, não para falar com eles por hora, mas apenas para observá-los. Se estivessem treinando poderia ver como se movimentavam, do contrário apenas teria em mente suas relações e talvez um pouco do que pensavam. Nesse momento, todo tipo de informação era pouco.

Controle: